Para falarmos da evolução do jornalismo português nos anos 60 teremos que começar por enquadrá-la com o ambiente social e politico que se vivia na época.
Portugal assistiu, nesta década, ao inicio da guerra colonial, ao aumento substancial da emigração, às crises estudantis, à influência externa da cultura norte-americana, nomeadamente através da música e do cinema e aos movimentos migratórios das zonas rurais para as cidades. Foi essencialmente uma época de grandes mudanças sociais e de criação de novas mentalidades. E, se os Meios de Comunicação Social contribuíram de alguma forma para esta evolução, também eles foram alvo de algumas mudanças que lhes permitiram conquistar uma identidade e alguma da influência social que caracteriza o jornalismo actual…mesmo convivendo com um regime político que utilizava a censura como ferramenta de manipulação do poder.
E quais as causas dessa evolução?
Surgem nos Media novos protagonistas que disponibilizam uma maior abertura à modernização, nomeadamente, Ruella Ramos, no Diário de Lisboa e Francisco Pinto Balsemão, no Diário Popular. É refundada a Capital.
No plano tecnológico, a década de 60 traz boas ‘notícias’ aos jornalistas que passam a ver o seu trabalho facilitado com o uso generalizado - pasme-se – do gravador portátil, da máquina de escrever e do telex. Os principais diários passam a dispor de frotas de automóveis utilizadas na distribuição de jornais mas também no apoio às saídas em reportagem. Introduz-se nesta época a composição a frio e o ‘offset’.
Por outro lado, a década de sessenta traz uma progressiva alteração na composição social das redacções que passam a integrar jovens jornalistas, licenciados ou com frequência universitária e, a pouco e pouco, mulheres.
Não sei se foram as licenciaturas ou as mulheres, o que é certo é que o jornalismo português é alvo de um ‘arejamento’ e ganha uma nova geração de profissionais, que desenvolve um jornalismo menos burocrático, mais criativo e moderno, quer em termos de linguagem, quer em termos de temáticas ou ângulos de abordagem.
Os novos jornalistas viam-se cada vez menos como “escritores de jornais”, ou boémios “desenrascados” que acumulavam esta com outras profissões. A entrevista e a reportagem ganham assim protagonismo face ao artigo, o que contribuiu para separar as águas entre os “escritores de jornal” e os jornalistas profissionais. Poder-se-á afirmar que esta nova geração desenvolve um estilo muito próximo do modelo do “novo jornalismo” norte-americano.
Em termos políticos assiste-se a uma contestação crescente dos ‘novos’ jornalistas à subserviência ao regime e à censura que alinha claramente com a evolução das correntes de opinião pública.
A evolução do jornalismo, nos anos sessenta, foi o ponto de partida de um caminho difícil que permitiu que os jornalistas portugueses tenham chegado a 1974 com a consciência, e também com o orgulho, de constituírem uma classe profissional autónoma, cada vez melhor formada e mais profissional.
A história do jornalismo nesta década mostra-nos o romantismo de uma profissão que não devia ser menos do que uma missão. Uma missão de apoio à verdade e à liberdade. É uma bonita história que nos ensina que é possível lutar por ideais mesmo em condições adversas. Um bom exemplo para as novas gerações de jornalistas!