sexta-feira, 26 de março de 2010

Criminalidade e Incoerência: vale a pena?

Diariamente, na nossa actividade de consultoria de comunicação, desenvolvemos para os nossos clientes estratégias de comunicação coerentes com a sua realidade empresarial.
A incoerência entre a realidade e as mensagens veiculadas coloca inevitavelmente os comunicadores numa posição de grande vulnerabilidade e pode, a médio ou mesmo a curto prazo, destruir a reputação de qualquer entidade.
Vem esta elegia à coerência a propósito do processo de comunicação dos resultados do último relatório de segurança interna.
O senhor Ministro da Administração Interna apresentou (comunicou) uma diminuição da criminalidade grave em 0,6% face ao ano transacto e consequentemente uma inversão de tendência neste tipo criminalidade. Arriscou… e muito! E arriscou porque pode arriscar.
Será possível que quando Rui Pereira presta estas declarações nenhum jornalista, mais atento, leia o referido relatório e efectue as seguintes perguntas: ‘Senhor Ministro, como é possível estar a registar-se uma inversão de tendência da criminalidade grave e violenta se esta aumentou em treze distritos e apenas diminui em dois?’ ou ‘Senhor Ministro, sendo que 2008 apresentou uma das taxas de criminalidade mais alta dos últimos anos, não lhe parece irrelevante um decréscimo de 0,6%?’
Diz ainda o Senhor Ministro: Portugal continua a ser um dos países da Europa com a taxa de criminalidade mais baixa. É verdade. Li hoje, no jornal I. As estatísticas da taxa de criminalidade comparada indicam-nos que, de facto, Portugal, Grécia, Espanha e Itália são os países com menor taxa de criminalidade comparada da Europa. Por outro lado, a Suécia, a Bélgica, o Reino Unido e a Dinamarca são os países mais violentos da Europa. Não soa a estranho?
Mais uma vez, alguém me diz por que é que ninguém explica aos portugueses que os suecos devem ser os cidadãos da Europa que mais confiam na eficácia das suas polícias e que, consequentemente, se lhes roubam um alfinete, apresentam queixa. Ninguém fala das ‘cifras negras’. Em Portugal, a criminalidade é baixa porque o ‘pessoal’ não apresenta queixa. Para quê?

Comece a haver alguma coerência na comunicação do tema segurança e talvez os portugueses comecem a pensar que, afinal, vale a pena!